30 julho 2006

Amigo

Oie! Todo mundo deve estar sabendo da guerra no Oriente Médio entre Líbano e (o arrogante) Israel. Ok, eu sei que o Hizbollah, grande partido libanês e outrora um grupo gerrilheiro-separatista-terrorista, pisou feio na bola em seqüestrar 03 soldados israelenses e se negarem a libertarem porém o contra-ataque em represália por Israel é algo abominável. Eu sei que numa guerra não há lado 100% bom ou ruim, e que não é uma guerra justa, mas, iniciar uma ofensiva sem ao menos tentar acordos é algo repudiante. E as baixas são cada vez maiores, pelo menos 300 civis libaneses e cerca de 25 israelenses estão mortos, as cidades estão em ruínas, as pessoas estão desesperadas sem saber o que fazer: se salvam as vidas ou se ficam ali por perto para tentar salvaguardas seus imóveis, empregos, enfim, toda sua vida. São decisões difíceis a serem tomadas.

Bem, vou homenagear meus conterrâneos libaneses com algo bem diferente: uma poesia. Sim! Uma poesia! E uma poesia do escritor libanês Gibran Kahlil Gibran. O autor nasceu em Bsharra, Líbano, em 1883, terra ainda dominada pelo Império Turco-Otomano e, temendo o regime fascista que começara a se instalar na região, muda-se com sua família para os EUA, onde se radicaria e tornar-se-ia referência intelectual para o conhecimento da alma do povo muçulmano.

Sua arte destaca-se no campo literário e de artes visuais. No campo das letras combina as mais elevadas e vívidas percepções da realidade espiritual com uma poesia adornada e absolutamente individual.

Meu amigo

Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.

Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.

Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço – pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos, tuas próprias esperanças em ação.

Quando dizes: “O vento sopra do leste”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”, pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.

Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar, nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.

Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale: porque não podes ouvir as canções de minhas trevas nem ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas. Gostaria de ficar a sós com a noite.

Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamas-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”, e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada” – porque não gostaria que visses meu Inferno. A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas. E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.

Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão. E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso. Gostaria de rir sozinho.

Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura. Prefiro ser louco sozinho:

Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas.

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